As eleições primárias estão de volta, hoje, com a realização da primária do New Hampshire, a primeira neste formato, já que, na semana passada, no Iowa, realizou-se uma eleição em formato de caucus. Agora, num Estado mais homogéneo politicamente - os eleitorados democratas e republicanos não são tão polarizados - teremos uma primária que poderá ser importante na definição da corrida.
Do lado democrata, tudo indica que teremos uma vitória de Bernie Sanders, com todas a sondagens a darem uma vantagem folgada ao senador do vizinho Estado de Vermont. Hillary Clinton já praticamente desistiu de disputar a primária que lhe deu uma surpreendente vitória sobre Barack Obama, há oito anos, e que a lançou para uma longa e renhida disputa com o actual presidente norte-americano.
Segundo as últimas notícias, Hillary não está contente com o modo como a sua campanha está a decorrer e já se fala em mexidas no seu staff, em especial no sector da comunicação digital, que está a ser claramente ultrapassada pela mensagem de Sanders. Ora, esse sucesso da campanha de Sanders nos meios digitais tem muito a ver com a penetração de Bernie no eleitorado jovem, que apoia maciçamente o único senador declaradamente socialista nos Estados Unidos. Se esse sucesso nos jovens é causa ou efeito das campanhas digitais, é mais difícil de saber. Contudo, David Axelrod, o guru da estratégia de comunicação de Obama terá alguma razão no que diz sobre a campanha de Clinton.
Será que, como em 2008, as sondagens voltarão a estar erradas ou Hillary sofrerá mesmo uma dura derrota no The Granite State? A crer na atitude de Clinton e nas sondagens - a média do Pollster dá uma vantagem de cerca de 14% a Bernie Sanders - será mesmo o senador do Vermont a declarar vitória. Ainda assim, Hillary Clinton conta com uma larga vantagem a nível nacional e nos próximos Estados a ir votos, fruto da sua enorme superioridade estrutural e organizacional. Continuará, por isso, a ser a grande favorita a obter a nomeação presidencial pelo Partido Democrata.
Na facção republicana, as coisas não são tão simples e, em vez de termos uma corrida bipolarizada, temos uma disputa que conta ainda com oito concorrentes. Depois da vitória de Ted Cruz no Iowa, o cenário muda de figura no Iowa, onde o eleitorado republicano é bem mais moderado e com menos incidência de votantes evangélicos. Assim, o senador do Texas não repetirá a vitória do caucus do Iowa e deveremos assistir ao primeiro triunfo do grande animador deste ciclo eleitoral: Donald Trump.
The Donald tem liderado com larga vantagem em todas as sondagens no New Hampshire e, apesar de os seus números a nível nacional terem perdido algum fulgor depois do Iowa, no Granite State mantiveram-se praticamente inalterados. É possível, porém, que a sua vitória não seja tão expressiva como indicam os números das sondagens, porque, como se viu no Iowa, o seu apoio eleitoral é extremamente volátil. Em contrapartida, os eleitores que ainda não decidiram o seu sentido de voto, têm poucas probabilidades de optar pelo mogul do imobiliário. Se Trump obtiver uma vitória curta, poderemos assistir ao início do fim da sua campanha.
Com o primeiro lugar praticamente assegurado, interessa perceber quem ficará com o segundo posto. Esse lugar deverá ser disputado por Marco Rubio e John Kasich, com Ted Cruz e Jeb Bush a espreitarem uma surpresa. Até há poucos dias atrás, esperava-se que Rubio solidificasse o seu bom resultado no Iowa, mas a sua desastrosa participação no último debate antes desta primária travou o seu momentum e estagnou os seus ganhos face a Trump. Em sentido contrário, Chris Christe pode aproveitar a sua forte prestação no debate para catapultar a sua campanha que parecia em queda livre rumo à desistência após o New Hampshire e pode ser uma das surpresas da noite.
John Kasich tem feito um forcing final no New Hampshire, fruto da moderação do seu discurso e das centenas de membros do seu staff que importou do Ohio, onde é Governador. Também Jeb Bush recuperou alguma coisa nos últimos dias e um resultado acima dos 10% pode manter viva a sua campanha, que conta ainda com forte apoio financeiro por parte dos Super PACs por detrás da sua candidatura.
Com o voto moderado e do establishment dividido entre Rubio, Christie, Kasich e Bush, Ted Cruz corre sozinho pelo voto ultraconservador, o que lhe valerá sempre um resultado nos quatro primeiros e o manterá bem lançado na corrida. Ben Carson não repetirá o quarto lugar do Iowa e ficará nos low single digits, à imagem de Carly Fiorina que continuará a ser um non factor nestas eleições.
Resumindo, a corrida democrata pouco se definirá depois do New Hampshire, com Bernie Sanders a fazer pela vida de primária em primária, enquanto que Hillary Clinton continuará a sua maratona rumo à nomeação, salvo uma enorme surpresa. No GOP, poderemos assistir a mais duas ou três desistências, mas com o travão na ascensão de Marco Rubio, outros candidatos como Jeb Bush, John Kasich ou Chris Christe poderão ter votos suficientes para se manterem mais um pouco na corrida. Estamos, todavia, no campo das especulações e as decisões que realmente importam serão tomadas mais logo pelos eleitores do New Hampshire. E nós cá estaremos para assistir.
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