Há oito anos como agora, Hillary Clinton era a grande favorita a conseguir a nomeação presidencial pelo Partido Democrata. Contudo, um terceiro lugar no Iowa, perdendo para um surpreendente Barack Obama e para um John Edwards que cedo cairia em desgraça, fez soar os alarmes na Hillaryland e acabaria por marcar o início do fim das hipóteses da antiga Primeira-Dama nesse ciclo eleitoral.
Desta vez, Clinton é novamente vista como uma a inevitável nomeada democrata, mas voltou a ver a sua suposta imbatibilidade ser posta em causa por um improvável Senador. Em 2016, é Bernie Sander que com uma campanha em muito semelhante à de Obama (pela mensagem de mudança do status quo e pelos eleitores que atrai - principalmente os jovens) ameaça Hillar pela sua Esquerda.
No New Hampshire, Bernie Sanders está bem lançado para derrotar a ex-Secretária de Estado, mas, no Iowa, Hillary tem surgido à frente nas sondagens e conta derrotar o Senador do Iowa para evitar que este ganhe momentum e que se diga que it's 2008 all over again. Até porque, de facto, 2016 não é em nada semelhante com a eleição de há oito anos. Sanders é um candidato mais marginal do que Obama (auto-denomina-se um democrata socialista, uma denominação com uma conotação muito negativa nos Estados Unidos), ao contrário do actual Presidente não conseguiu apoios no establishment do Partido Democrata e não tem um aparelho montado a nível nacional como aquela formidável estrutura que apoiava Obama em 2008.
Apesar disso, Bernie Sanders montou uma eficaz campanha, concentrando-se nos dois primeiros Estados das primárias, o Iowa e o New Hampshire, com uma mensagem populista anti-Wall Street que vale cada vez mais votos e com uma aposta nos grassroots que o levou a encher comícios com vários milhares de apoiantes entusiastas um pouco por todo o lado onde passou. Com isso, tornou-se uma ameaça para Hillary Clinton que se viu forçada a gastar mais tempo e dinheiro nos early states do que aquilo que eventualmente gostaria.
Hoje, na véspera do início das primárias, percebe-se que é muito possível que Sanders consiga mesmo uma dupla vitória no Iowa e no New Hampshire, algo impensável até há pouco tempo atrás. Ainda assim, e mesmo que isso seja um grande contratempo para Hillary, é pouco provável que não seja a esposa de Bill Clinton a nomeada democrata, já que, ao contrário do seu principal adversário, conta com uma estrutura a nível nacional que lhe permitirá recuperar rapidamente dos desaires que possa sofrer nas primeiras contendas. Além disso, conta com o apoio em peso de todo o seu partido, o que lhe garante, à partida, uma grande vantagem nos superdelegados, que podem decidir a corrida caso esta seja muito equilibrada. Finalmente, é inegável que Hillary Clinton é uma das mais bem preparadas candidatas presidenciais da história do país, como recordou o New York Times no editorial em que anunciou o seu apoio à antiga Senadora do Estado de New York.
Assim, deveremos assistir a uma interessante disputa na fase inicial das primárias democratas, a começar já amanhã, no Iowa. Com as sondagens a mostrarem os dois adversários muito próximos, é difícil prever quem vencerá. O formato de caucus pode favorecer Bernie Sanders, cujos apoiantes se encontram muito motivados, mas Hillary conta com o apoio do eleitorado mais moderado e com um nome reconhecido por praticamente 100% dos eleitores.
Seja como for, e ao contrário do que sucede do lado republicano, parece-me que o Iowa não será decisivo na escolha do nomeado democrata para a corrida à Casa Branca. Isto porque, como expliquei atrás, parece-me muito improvável que Bernie Sanders consiga mais do que retardar a vitória de Hillary. Até porque o Senador do Vermont terá como principal objectivo obrigar Clinton a "manter-se honesta" na sua campanha, ou seja, fazer com que a presumível nomeada se mantenha ancorada a um discurso mais liberal (leia-se, de Esquerda) do que seria previsível caso não tivesse oposição nas primárias democratas.
Falta falar de Martin O'Malley, ex-Governador do Estado do Maryland, cuja campanha nunca descolou e que tem tido números insignificantes nas sondagens. À espera de um milagre que lhe permita obter oxigénio para se manter na corrida, O'Malley parece remetido para a irrelevância nestas eleições.
Para o fim, fica a minha previsão para amanhã. Se não houver surpresas, acredito que Hillary ganhará, mas com uma curta margem para Bernie Sanders. O'Malley não deverá passar dos 3%.
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