sábado, 30 de janeiro de 2016

O Iowa entre Trump e Cruz


A dois dias do caucus do Iowa, o arranque oficial das primárias presidenciais de 2016, a corrida pela nomeação republicana continua marcada pelo fenómeno Donald Trump, que tem ofuscado os restantes candidatos (incluindo democratas) e fazendo deste ciclo eleitoral um dos mais mediáticos de todos os tempos.
Sendo um campeão de notoriedade, Trump até se deu ao luxo de faltar ao último debate televisivo antes do Iowa, evitando um novo frente-a-frente com um dos seus (muitos) ódios de estimação, a pivot da Fox News, Megyn Kelly. Todavia, e apesar de nas sondagens a nível nacional The Donald dominar a toda a linha com grande vantagem, a sua liderança no Estado do Iowa é relativamente curta, com a última sondagem a indicar uma margem de apenas 4% a separar o mogul do imobiliário do Senador Ted Cruz. 
Tudo indica, por isso, que a corrida no Iowa será bastante renhida, até porque o modelo da votação, através de caucus - uma espécie de assembleias onde os apoiantes de todos os candidatos tentam atrair os eleitores e o voto é feito de forma informal, como, por exemplo, de braço no ar - resulta, normalmente, num reduzido universo eleitoral, mais restrito a eleitores muito motivados e tradicionalmente empenhados no mundo político-eleitoral. Ora, esse eleitor-tipo é diametralmente oposto ao perfil do votante em Trump, que costuma atrair eleitores dispersos, pouco motivados politicamente e muito propícios a fazer parte da abstenção, e esse facto pode prejudicar o resultado de Donald Trump no Iowa.
Ainda assim, tudo indica que Trump, mesmo que não vença, consiga um bom resultado e continue, depois dos caucus, a dominar o cenário da batalha pela nomeação. Por outro lado, há candidatos que dependem de uma boa prestação na noite da próxima Segunda-feira se querem manter viva a sua campanha. A começar logo por Ted Cruz, actualmente o principal rival de Trump, mas que precisa de conseguir um bom resultado no Iowa, um Estado que lhe é mais favorável do que o New Hampshire, palco da primeira primária, a 9 de Fevereiro. Se não vencer, Cruz necessita de um score sólido, para não perder momentum e manter-se como a alternativa mais viável a Donald Trump.
Também Marco Rubio, que vem surgindo no terceiro posto, conta com uma prestação positiva no dia 1, de preferência com uma votação acima de 15%. O senador da Florida precisa de um resultado desse género para se manter como um candidato do top tier e possivelmente vir a beneficiar das desistências dos candidatos que consigam fracos resultados no Iowa e no New Hampshire. Com o seu perfil "misto", de candidato que é bem visto pelo establishment, mas que o eleitorado não identifica com o business as usual de Washington, Rubio é um dos concorrentes que mais pode vir a ganhar quando a actual dispersão dos votos por quase uma dezena de candidatos terminar para dar lugar a um campo mais restrito de pretendentes à Casa Branca.
Ben Carson, cuja campanha se encontra em queda livre, espera ainda por um balão de oxigénio que o mantenha mais algum tempo na corrida. Contudo, se ficar pelos low single digits (e as últimas sondagens não lhe dão muito mais do que isso), é bem possível que a sua campanha não resista muito mais, até porque o New Hampshire não lhe é terreno favorável. Seja como for, o Dr. Carson está condenado a ser um also run neste ciclo eleitoral.
Por outro lado, Jeb Bush, Chris Christie e John Kasich deverão ter um mau resultado no Iowa, ainda que isso seja um desfecho normal, já que estes dois candidatos, representantes da ala mais moderada e tradicional do Partido Republicano, estão a guardar-se para o New Hampshire, onde o eleitorado, normalmente menos conservador, lhes dá mais garantias de um resultado digno e que lhes permita afirmarem-se como players nestas primárias. Também Rand Paul, que nunca se conseguiu afirmar durante a pré-campanha, poderá tentar uma pequena surpresa no granite state, já que este Estado costuma premiar candidatos da ala libertária, como ficou demonstrando em 2012, quando o seu pai, Ron Paul, alcançou um notável segundo lugar, apenas atrás de Mitt Romney.
Sobram, assim, os candidatos marginais (se bem que esse adjectivo também possa ser endereçado a, pelo menos, Rand Paul) e que cujas campanhas não deverão passar de asteriscos quando se contar a história das presidenciais de 2016: Carly Fiorina, Mike Huckabee, Rick Santorum e Gil Gilmore não deverão "contar para o totobola" quando se souberem os resultados do Estado do Iowa na noite da próxima Terça-feira.
Para o fim ficam as minhas previsões para a noite eleitoral republicana. Com o momentum do seu lado, Donald Trump deverá bater Ted Cruz, ainda que a margem de vitória possa ser mais curta do que dizem as sondagens, devido ao "efeito caucus" que referi anteriormente. Em terceiro, deve ficar Marco Rubio a uma distância segura do resto do pelotão.
Se estes resultados se confirmarem, deverão ser estes três candidatos e mais um quarto concorrente que saia do grupo dos moderados (aquele que conseguir um melhor resultado no New Hampshire) a disputarem durante as próximas semanas (e talvez meses) a nomeação presidencial republicana. A corrida promete!

Amanhã farei o lançamento da corrida democrata.

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