Após a esmagadora vitória nas eleições intercalares, muitos republicanos pensaram que Barack Obama não teria outro remédio senão admitir a derrota e aproximar-se das posições do GOP. Contudo, quem esperava um compromisso em Washington enganou-se, pois as posições estão, agora, mais extremadas do que nunca. Isto porque o Presidente dos Estados Unidos, em vez de tentar agradar à oposição, preferiu irritá-la, ao fazer saber que se prepara para tomar acções executivas (flanqueando, assim, o Congresso) que permitam legalizar alguns imigrantes ilegais.
Como era previsível, o Partido Republicano insurgiu-se rapidamente contra estes planos da Casa Branca, com algumas vozes mais radicais a falarem mesmo num eventual processo de impeachment (demissão forçada pelo Congresso) de Barack Obama. E se o impeachment é um hipótese muito remota (e o desencadeamento desse processo por parte do GOP seria uma verdadeira dádiva para os democratas), já um novo shutdown do governo federal, através da suspensão dos fundos necessários para o funcionamento do Estado por parte do Congresso republicano, é um cenário mais plausível. E, de facto, já alguns sectores republicanos - mais ligados ao Tea Party - têm falado, nos últimos dias, de um novo shutdown como forma de retaliação pelas possíveis acções do Presidente no campo da imigração. Naturalmente, a liderança republicana, ciente que os shutdowns anteriormente provocados pelo seu partido prejudicaram a imagem do GOP junto da opinião pública, está já a tomar as medidas necessárias para evitar tal possibilidade.
Quanto a Barack Obama, parece-me que esta é uma medida acertada a nível político e eleitoral. É verdade que está novamente a confrontar a oposição e que pode ser criticado por não respeitar os resultados das últimas eleições que foram altamente favoráveis aos republicanos. Mas também é um facto que Obama tem poucas hipóteses, faça o que fizer, de alcançar compromissos razoáveis com um Partido Republicano cada vez mais entrincheirado. Sem o apoio do Congresso, resta ao Presidente dos Estados Unidos optar por acções executivas se quiser deixar a sua marca no campo legislativo interno nestes dois anos finais do seu mandato.
Por outro lado, Barack Obama pretende forçar os republicanos a tomarem novamente uma posição vista como anti-imigração, o que alienará - mais ainda - o eleitorado hispânico que será, previsivelmente, decisivo no próximo ciclo eleitoral. Esta medida de Obama é especialmente prejudicial para os candidatos presidenciais republicanos que, face à assertiva oposição do GOP, serão obrigados a vir a público condenar as acções do presidente norte-americano. E, como se viu com Romney em 2012, essa postura anti-imigração do eventual nomeado republicano poderá custar-lhe muitos votos na eleição geral e, quem sabe, até a Presidência.
Por isso, com esta medida, Obama estará a ajudar alguns milhões de imigrantes ilegais que poderão ficar nos Estados Unidos, pelo menos, por mais algum tempo, mas estará também a dar uma preciosa contribuição para a campanha do nomeado presidencial democrata. Hillary Clinton (who else?) agradece.
Sem comentários:
Enviar um comentário