Depois do desastroso primeiro debate para Donald Trump e o escândalo gerado pela revelação das suas declarações em open mic sobre a sua relação com o sexo feminino, escrevi aqui que a candidatura do republicano estava perdida e que apenas uma grande surpresa impediria a vitória de Hillary Clinton. Agora, menos de um mês depois e apenas a três dias do dia decisivo, as sondagens voltaram a apertar e Trump parece estar novamente na corrida.
Ainda assim, e na minha opinião, Clinton continua a ser a grande favorita e vejo como muito difícil o triunfo de Donald Trump no voto popular, mas, mais importante ainda, no Colégio Eleitoral. Isto porque Hillary consolidou uma importante firewall de Estados que lhe permitem chegar, como se pode ver no mapa acima, a um número muito próximo dos 270 votos eleitorais necessários para ser eleita como a 45ª Presidente norte-americana. Ao aguentar os Estados tradicionalmente democratas (no Nordeste, na costa Oeste e no Midwest) e ao juntar-lhes os novos bastiões democratas na Virginia, New Mexico e Colorado, que, nos últimos anos viram as alterações demográficas fazerem passar estes Estados definitivamente para a coluna azul, Hillary Clinton fica apenas a dois votos do número mágico.
Ou seja, bastará à nomeada do Partido Democrata vencer qualquer um dos Estados toss-up - New Hampshire, North Carolina, Florida, Ohio, Iowa ou Nevada. E se no Ohio e no Iowa, Trump parece bem posicionado para garantir um triunfo (dois Estados com muitos blue collar workers, um grupo que apoia maioritariamente o candidato republicano), já no Nevada, na North Carolina e no New Hampshire é Hillary quem parte como favorita, estando a Florida num verdadeiro empate técnico.
É verdade que os republicanos continuam a afirmar que têm hipóteses na Virginia (onde Clinton surgiu na frente de 28 das últimas 30 sondagens), no Colorado (um Estado com muitos jovens, eleitores com altos níveis de instrução e muitos hispânicos), na Pennsylvania (o blue state que é sempre "namorado" pelo GOP) e no Michigan (onde existem muitos blue collar workers, mas onde impera a indústria automóvel, salva pelos democratas), mas qualquer um destes Estados parece-me fora do alcance de Trump - ainda que os democratas pareçam algo preocupados com o Michigan (Clinton agendou mesmo uma visita de última hora a Detroit).
Por sua vez, os democratas também contam com alguns long shots, nomeadamente o Arizona, a Georgia e, em menor medida (e muito mais incerto, por falta de sondagens), o Alaska. Contudo, estas serão apostas de segunda linha para Hillary Clinton, que terá mais a ganhar em apostar as suas fichas nos Estados toss up, onde se decidirá a corrida, caso se confirmem os cenários de uma disputa muito equilibrada.
Curiosamente, não é totalmente descabido que nenhum dos candidatos chegue aos 270 votos eleitorais, num cenário de empate a 269 entre Hillary e Trump (com o republicano a vencer todos os toss up states, mas Hillary a vencer o voto do 2º distrito eleitoral do Maine), ou com o candidato independente Evan McMullin a amealhar a vitória no Utah e a impedir que os principais candidatos alcancem o número mágico de 270 votos. Nesse caso, a decisão passaria para a Câmara dos Representantes, que votaria por Estado e não por Congressista. Quer isto dizer que cada Estado teria um voto, votando de acordo com a maioria da sua delegação. Ou seja, tendo em conta o actual figurino da House, a vitória seria, quase de certeza, atribuída a Donald Trump, caso se confirmasse este cenário possível, mas improvável.
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