Ainda que não tenha escrito sobre isso (24 horas por dia não chegam, nem nada que se pareça), tenho seguido atentamente a campanha para as eleições primárias para a escolha do candidato presidencial do Partido Republicano e todo o espectáculo gerado pela presença do mais polémico candidato de que há memória: Donald Trump. O magnata do imobiliário - e eterno candidato a candidato presidencial - desta vez avançou mesmo com uma candidatura à Casa Branca. E que candidatura! O efeito do "The Donald" tem sido tal que transformou estas primárias num autêntico circo mediático, bem à imagem do excêntrico bilionário.
Com a sua forma de estar polémica e o seu discurso agressivo e politicamente incorrecto (e não raras vezes a resvalar para o mal educado e insultuoso), Trump tomou conta da campanha e conquistou admiradores entusiásticos e críticos ferozes. Com a sua notoriedade, Trump subiu rapidamente nas sondagens e é, há largas semanas, o líder incontestado da corrida. É, neste momento, o frontrunner e o alvo a abater por parte dos restantes candidatos.
Todavia, não acredito (ainda) que Donald Trump possa vir a ser o candidato presidencial do GOP. Em primeiro lugar porque o Verão que antecede as primárias é conhecido, em especial do lado republicano, por ser uma espécie de silly season. Nesta altura, a vários meses do início das primárias, a maioria dos norte-americanos está ainda pouco atenta ao trilho da campanha, ao passo que os eleitores mais entusiastas, que, no caso do GOP, são, por norma, os mais conservadores, estão já ligados a tudo o que se passa na corrida. Ora, esses eleitores costumam procurar um candidato fora do establishment e que represente a ala-dura do partido. Foi isso que aconteceu há quatro anos, quando Michelle Bachman e Rick Perry dominaram as sondagens nesta fase da campanha, sem que nenhum deles se viesse a tornar um verdadeiro contender na fase "a doer" das eleições. Em 2016, pode ser a vez de Donald Trump. Mas, como Perry e Bachman, o mais provável é que à medida que o grosso dos eleitores comece a prestar verdadeira atenção à disputa pela nomeação (e não apenas a todo o show off actual), Donald Trump seja ultrapassado por concorrentes mais institucionais e melhor posicionados para a eleição geral.
Por outro lado, é um facto que Trump tem dominado por mais tempo do que qualquer outros dos candidatos "anti-Romney" o fez em 2012, o que pode levar a crer que Trump veio para ficar e não é um fenómeno de circunstância, especialmente porque tem reinado entre um grande e forte leque de candidatos. Mas The Donald tem beneficiado, e muito, precisamente do facto de concorrer entre quase duas dezenas de republicanos que procuram a nomeação do partido. Trump, sempre polémico e sem papas na língua, é um homem de extremos e provoca essa mesma reacção: ou se adora, ou se detesta. Assim, com o seu discurso fracturante, conseguiu uma franja de apoiantes (os que o adoram) que lhe tem valido cerca de 30/35% das intenções de, voto de acordo com as sondagens, com os restantes eleitores (os que o detestam) a dividirem-se pelas restantes candidaturas.
Assim sendo, é provável que à medida que o tempo passa e que a corrida se vai definido, os eleitores que não gostam de Trump se vão posicionando atrás de um ou dois candidatos melhor posicionados para obter a nomeação, ao mesmo tempo que os concorrentes secundários e que ficam sem dinheiro e apoios se vão retirando da corrida. O empresário ficará, assim, "agarrado" à sua franja eleitoral, sem grandes hipóteses de ver crescer a sua base de apoio.
Contra Donald Trump funcionará também o aparelho do Partido Republicano, que não quer, de forma alguma, que seja o excêntrico e polémico bilionário a representar o GOP na eleição geral, com a consciência que isso significaria entregar de bandeja a Casa Branca aos democratas por mais quatro anos. O establishment do partido tem conseguido manter o controlo do processo de nomeação, pois não é habitual ver um outsider a concorrer sob a égide dos republicanos - o último caso terá sido Barry Goldwater em 1964 - e quererá que assim continue desta vez.
Por tudo isto, considero muito pouco provável que Trump venha a conseguir a nomeação. Ainda assim, convém continuar a prestar atenção a este ilustre candidato (o que não será difícil). Primeiro, porque, nesta fase das campanhas presidenciais os candidatos procuram essencialmente duas coisas: dinheiro e notoriedade. Ora, Donald Trump não precisa nem de uma coisa nem de outra, pois é um bilionário e pode financiar pessoalmente a sua campanha e é uma figura pública, conhecido nos Estados Unidos e no mundo. Finalmente, porque costuma dizer-se que nesta fase não se ganham eleições, mas podem perder-se. E, para já, Trump ainda não as perdeu.
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